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Minutos pagantes: promessa de lucro fácil em jogos caça-níquel online é fraude, dizem especialistas e setor

Pessoas afiliadas infringem regras para receber comissão das bets, enganando jogadores que buscam aumentar os ganhos. Setor defende regulamentação para lidar com o problema e responsabilizar fraudadores.

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Jogo caça-níquel Fortune Tiger, conhecido como jogo do tigrinho — Foto: Matheus Moreira

Popular nas redes sociais e no WhatsApp, a estratégia para jogos de caça-níquel online conhecida como minutos pagantes é uma fraude, segundo especialistas e representantes do próprio setor de apostas.

De acordo com os promotores da estratégia, os minutos pagantes seriam momentos em que os jogos tendem a pagar mais prêmios: se o minuto pagante for 9, o jogo poderia pagar mais em horários que terminam em 9, como 12h59 ou 15h19.

Uma tática comum é dizer que há um bug (erro) no jogo e que, ao seguir uma série de ações durante os supostos minutos pagantes, seria possível ganhar dinheiro.

Isso não funciona, diz Ana Paula Gatti, diretora da Associação Brasileira dos Bingos, Cassinos e Similares (Abrabincs), que define a promessa como parte de “universo paralelo de comercialização de estratégias secretas” infundadas.

“Se comprovada a inexistência de minutos pagantes, e se for certificada a aleatoriedade dos jogos, estamos diante da figura de influenciadores que estão enganando seus seguidores para obter lucros com a venda de estratégia falsa e com o comissionamento da perda desses apostadores; que podem estar sendo lesados duplamente”, disse.

Caso, eventualmente, a estratégia funcione, aí a fraude está na plataforma, segundo Ana Paula. Isso porque os caça-níqueis são jogos de azar e, por princípio, os resultados devem ser gerados de forma aleatória, sem padrão definido, e os resultados devem ser imprevisíveis – semelhante ao que acontece nas loterias.

Os números que aparecem no caça-níquel online são gerados por meio de um RNG (Gerador de Números Aleatórios, na sigla em português). As imagens que aparecem no caça-níquel como frutas, sinos, sacos de moeda, tigres – daí a popularização da expressão “jogo do tigrinho” – são apenas representações visuais desses números.

“Não existe nada que um cliente possa fazer antes ou durante [uma rodada de um jogo caça-níquel] que possa influenciar no resultado”, afirma Leonardo Benites, diretor de comunicação da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), que representa as plataformas de jogos online.

Por que, então, a tática de minutos pagantes é tão popular?

 

Segundo especialistas e representantes do próprio setor, a promessa dos minutos pagantes é feita, muitas vezes e de forma irregular, por afiliados das plataformas de apostas, que ganham comissão de acordo com o volume de apostas que conseguem atrair para ela.

Essa promessa é divulgada de forma massiva em sites. Nos últimos 30 dias, por exemplo, o termo teve mais menções no WhatsApp que o ministro Fernando Haddad e um volume semelhante a Bolsa Família, segundo dados da Palver, que monitora 70 mil grupos públicos do aplicativo de mensagens.

Segundo Luis Fakhouri, diretor da Palver, o fato de “minutos pagantes” apresentar uma consistência no número de menções diárias ao termo traz indícios de envio automatizado.

A ANJL diz que os afiliados pegos divulgando estratégias falsas para obtenção de ganhos nos jogos, deve ser expulso pela plataforma expulso da associação.

“O problema fica no colo do operador [casa de apostas], porque quando aquele cliente descobre que, na verdade, passou por um golpe, foi enganado, o único contato que ele tem é com o operador. E aí o operador fala, ‘olha, não sabemos de nada disso que está acontecendo'”, diz Benites, diretor de comunicação da associação.

Presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL), Magnho José defende o estabelecimento de normas mais claras sobre os jogos online.

“Essa conduta dos influenciadores só será resolvida com a regulamentação porque as plataformas vão ter responsabilidade sobre o que os influenciadores estão sugerindo aos seus seguidores”, diz.

“Essa conduta dos influenciadores só será resolvida com a regulamentação porque as plataformas vão ter responsabilidade sobre o que os influenciadores estão sugerindo aos seus seguidores”, diz.

Por Matheus Moreira, g1 — São Paulo

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